10h50 07 Março 2016
Atualizada em 29/03/2021 às 16h00

Descaso com limpeza é comum em cidades campeãs da dengue

Lotes vagos com mato alto, lixo acumulado e água parada pelas ruas são condições ideais para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor também da zika e da febre chikungunya.
Por Priscila Pedroso

Não é por acaso que as cidades com mais casos de dengue por habitante enfrentam essa situação: em comum, elas têm grande número de lotes vagos com mato alto, lixo acumulado em calçadas e água parada pelas ruas – condições ideais para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor também da zika e da febre chikungunya. Atualmente, mais da metade dos municípios mineiros com mais de 100 mil habitantes vivem uma epidemia de dengue, e, ao visitar alguns deles, a reportagem constatou que, além da facilidade em encontrar locais propícios à proliferação do inseto, várias são as pessoas que contraíram a doença nos últimos dias.

 

Em Ibirité, na região metropolitana, terceiro colocado no ranking – que considera apenas municípios com mais de 100 mil habitantes e feito com base nos últimos dados divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) –, os moradores estão assustados com o surto de dengue. Até 24 de fevereiro, foram 2.332 casos notificados, número maior do que o dobro registrado em todo o ano passado: 1.064. Há, ainda, 57 suspeitas de zika em gestantes, e seis outros registros confirmados, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.

O motivo, segundo o coordenador de vigilância em saúde José Catulino Versiani Neto, seria o aumento da chuva na região metropolitana neste ano. “Boa parte da população economicamente ativa de Ibirité trabalha em outros municípios, como Betim e Contagem, onde choveu mais, o mosquito se espalhou e mais pessoas ficaram doentes”, justificou. Para ele, a doença tem atingido agora mais idosos e crianças, que não costumam deixar a cidade.

 

Em muitos bairros do município, como o Palmares, que concentra o maior número de notificações, objetos abandonados nos passeios, que vão desde garrafas de plástico a vasos sanitários quebrados, fazem parte do cenário urbano. “Não adianta eu cuidar da minha casa, se meu vizinho não fizer a parte dele e se a prefeitura não cuidar da cidade. Não dá para se prevenir assim”, disse o pintor aposentado Luiz Queiroz de Brito, 63, que já teve dengue duas vezes e ainda está se recuperando da última picada. O genro e a nora dele também estão em fase de tratamento da doença.

 

Na quinta colocação, Vespasiano, também na região metropolitana, onde 1.794 casos de dengue foram notificados até 29 de fevereiro, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, há lotes vagos, praças e até campos de futebol que viraram depósitos de lixo. Um retrato da situação é a rua Doutor Emílio Vasconcelos Costa, no bairro Célvia: é difícil enxergar a linha do trem devido ao matagal alto e à sujeira. De acordo com os moradores, as poucas visitas da prefeitura não resolveram o problema, que contribui não só para a proliferação do Aedes, como também de baratas, ratos e escorpiões. “A prefeitura custa a vir limpar e, quando vem, as pessoas sujam tudo de novo”, disse o soldador Elair Pascoal, 41, que teve dengue neste mês.

 

Coronel Fabriciano está no topo

 

Coronel Fabriciano, no Vale do Aço, é a cidade campeã do ranking de cidades com população maior que 100 mil habitantes com mais casos de dengue por grupo de pessoas. Até o momento, 5.057 casos foram notificados, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.

 

A diretora de vigilância em saúde de Fabriciano, Amanda Lacerda, reconhece haver muitos lotes vagos na cidade, mas essa não seria a única razão para o surto. “Não tem como atribuir a um único fator, pois temos um vírus novo circulando”, afirmou, referindo-se ao zika, que já gerou 254 notificações. A doença havia sido confirmada em cinco pessoas, sendo quatro gestantes. Ainda segundo Amanda, 150 agentes estão em campo no combate ao mosquito.

 

Fonte: OTEMPO

VEJA TAMBÉM