Uma mulher, de 46 anos, que vivia em condições análogas à escravidão desde os oito anos, foi libertada. O caso ocorreu em Patos de Minas/MG, onde Madalena Gordiano era explorada por uma família da cidade.
Conforme uma reportagem exibida no Fantástico, da TV Globo, nesse domingo (20), uma investigação do Ministério Público do Trabalho revelou a história. A mulher não recebia salário, não tinha direitos, e vivia reclusa, sob a vigilância dos patrões até o fim de novembro, quando foi resgatada por auditores fiscais do trabalho e pela Polícia Federal em um apartamento no Centro de Patos de Minas.
A mulher contou que quando criança foi até a casa da família pedir comida, quando a matriarca, uma professora, disse que ela então iria morar com a família. A mãe de Madalena sem condições de criar os nove filhos permitiu, mas a adoção nunca foi formalizada.
Logo que foi morar na casa nova, Madalena foi retirada da escola e cresceu ajudando a cuidar da casa e dos filhos biológicos da família.
Depois de 24 anos ela foi dada para um dos filhos, que é professor universitário, onde continuou vivendo nas mesmas condições.
Em 2001, Madalena se casou com um tio da esposa do professor, mas os dois nunca moraram juntos. O homem que era ex-combatente das forças armadas morreu pouco tempo depois e deixou duas pensões que hoje somadas passam de R$ 8 mil por mês. Madalena não recebia o dinheiro e o professor era quem controlava a conta. Segundo ela, recebia cerca de R$ 200,00 a R$ 300,00 por mês. Nos últimos 14 anos Madalena não teve contato com suas irmãs.
A situação só mudou quando ela começou a deixar bilhetes embaixo da porta de vizinhos pedindo materiais de higiene pessoal ou pequenas quantias em dinheiro para comprar os produtos. O que chamou a atenção da vizinhança.
Bilhete deixado na porta de um vizinho. Reprodução / Fantástico - TV Globo.
O casal, o qual foi o segundo patrão, está sendo investigado por submeter uma pessoa a condição análoga à escravidão e por tráfico de pessoas. Os dois também podem responder por apropriação indébita. A pena pode chegar a 20 anos de prisão.
A mãe do professor, que foi a primeira patroa, também pode ser responsabilizada mesmo após 14 anos, já que a escravidão é considerada crime contra a humanidade e não prescreve.
O advogado do professor disse que a hipótese de trabalho escravo não corresponde à realidade da relação entre Madalena e a família. Ele disse ainda que a divulgação pelos fiscais e agentes do estado é prematura e irresponsável e coloca em risco a segurança da família.
Madalena vive agora em um abrigo para mulheres vítimas de violência, em Uberaba/MG, e continua recebendo o dinheiro da pensão.