A demanda externa por grãos e carne dos Estados Unidos está sendo afetada pela guerra comercial global. A China reduziu suas compras de soja dos EUA e também cancelou compras de carne suína, de acordo com os dados semanais do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Analistas acreditam que os preços de commodities agrícolas ficarão sob forte pressão se essa tendência persistir.
"Se tivermos grandes cancelamentos novamente na próxima semana, eu espero uma reação mais forte do mercado", disse Karl Setzer, da Consus Ag Consulting, referindo-se ao cancelamento das compras de carne suína pela China.
Segundo o USDA, o país asiático cancelou compras de 12 mil toneladas de carne suína dos EUA na semana encerrada em 17 de abril. Os dados desta quinta-feira são os primeiros que abrangem uma semana completa de vendas após a recente escalada da disputa tarifária entre EUA e China.
Além disso, o USDA informou que a China comprou apenas 1,8 mil toneladas de soja no período, um número muito inferior às 72,8 mil toneladas compradas na semana encerrada em 10 de abril. O presidente Trump aumentou as tarifas sobre produtos chineses para 84% no início deste mês, valor que depois foi elevado para 145%. Isso levou a China a responder com uma tarifa de 125% sobre produtos dos EUA.
Apesar disso, muitos traders e analistas preferem esperar antes de tirar conclusões sobre a demanda futura da China - o maior comprador de soja dos EUA e também um destino importante para a carne suína americana. "A maioria das pessoas com quem falo acredita que 'uma semana não representa uma tendência'", disse Jason Britt, presidente da corretora agrícola Central States Commodities, com sede em Kansas City, Missouri.
Britt alertou que diversos fatores sazonais poderiam explicar a ausência temporária da China nas compras de soja americana. A China frequentemente reduz as compras na primavera (do Hemisfério Norte), período em que os agricultores dos EUA estão começando o plantio de suas próximas safras.
Se as tarifas forem mantidas, o mercado espera uma queda nos preços das commodities agrícolas dos EUA, já que a China absorve 60% das exportações de soja americana, disse Scott Gerlt, economista-chefe da Associação Americana da Soja. Ele acrescentou que, no caso da soja, substituir a demanda chinesa é extremamente difícil, e sua ausência pode causar impactos em toda a cadeia de suprimentos.
Mas analistas e traders reconhecem que a volatilidade em torno das decisões tarifárias de Trump torna difícil prever os movimentos futuros do mercado. Nesta semana, o presidente sinalizou disposição para reduzir as tarifas atuais sobre produtos chineses, embora a China esteja exigindo que essa redução ocorra de forma unilateral. Fonte: Dow Jones Newswires.