Após estrear com uma vitória tranquila no Masters 1000 de Madri, na quinta-feira, João Fonseca volta à quadra na tarde deste sábado para enfrentar Tommy Paul. O americano é o atual 12º do ranking e vive uma de suas melhores fases no circuito após enfrentar o alcoolismo e a falta de foco no início de sua carreira.
O americano, que tem jeitão de surfista e fala tranquila, revelou as dificuldades que enfrentou no vício em depoimento na série Break Point, da Netflix. Ele explica que, por imaturidade, não sabia como lidar com as primeiras premiações que recebeu no circuito - se tornou profissional em 2015.
"Quando me tornei profissional, eu estava meio que na minha fase de fazer festas", diz o tenista, que completará 28 anos em maio. "Se tinha um pouco de dinheiro no bolso, já pensava: 'Vamos nos divertir'. Eu meio que me deixei levar por isso."
O momento em que o alcoolismo mais atrapalhou a carreira de Paul foi em 2017. No US Open daquele ano, ele sofreu uma dura derrota por duplo 6/0 na chave de duplas. O revés vergonhoso, pela forma como o tenista jogou, teria feito a organização do Grand Slam americano negar um "convite" ao atleta da casa para a chave principal dois anos depois.
"Passei a noite bebendo e no dia seguinte eu deveria jogar duplas. Eu não estava lá, se é que você me entende. Tipo, eu não conseguia nem enxergar. Eu estava fazendo teste de alcoolemia (que mede a quantidade de álcool no sangue) por seis meses. Foi quando eu pensei: 'Isso tem que ser o fundo do poço'. Eu sabia que tinha de mudar alguma coisa. Foi quando comecei a levar tudo mais a sério."
O episódio também conta como o técnico Brad Stine e a mãe do atleta, Jill MacMillan, que chegou a ser tenista do circuito universitário americano, reagiram diante do vício de Paul, que tinha como objetivo se tornar o número 1 dos Estados Unidos, contra todas as expectativas naquele momento.
Oito anos depois, Paul não está longe da sua meta. O americano, cujo ídolo é o compatriota Andy Roddick, ex-líder do ranking, é o atual número dois do seu país, atrás apenas de Taylor Fritz, quarto colocado da lista da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP). Está logo à frente do compatriota Ben Shelton, 13º do mundo.
Em janeiro deste ano, Paul alcançou sua melhor colocação no ranking, com o nono lugar. A presença entre o Top 10 e o Top 20 confirma a recuperação física e mental do americano após o período difícil do alcoolismo. Não por acaso seis das sete finais disputadas em sua carreira aconteceram nos últimos anos, entre 2023 e 2025.
Dos quatro títulos de ATP que conquistou, três foram obtidos no ano passado. Ele faturou seus troféus em quadras mais rápidas, dura e de grama. Em Grand Slams, seus melhores resultados também acontecem em pisos mais velozes: a semifinal do Aberto da Austrália de 2023 e as quartas de final de Wimbledon da temporada passada. Em Roland Garros, único disputado no lento saibro, nunca passou da terceira rodada.
Curiosamente, o americano começou sua trajetória no tênis justamente na terra batida na Carolina do Norte. Será neste piso que Paul enfrentará João Fonseca, especialista nesta superfície e dono de um dos melhores retrospectos no saibro nesta temporada, com apenas uma derrota em sete partidas. O americano e o brasileiro vão se enfrentar pela primeira vez no circuito.
VIDA DE PESCADOR
Paul nasceu em New Jersey, mas cresceu em Greenville, no litoral da Carolina do Norte. Foi lá que conheceu a pescaria, que pratica nas horas vagas como amador. Em seu perfil nas redes sociais, é comum fotos e vídeos de suas aventuras em mar aberto. Com frequência, posta seus "troféus" de escamas e nadadeiras.
"Tento passar o máximo de tempo possível (relaxando), seja na praia, pescando, à beira-mar ou jantando", contou o tenista profissional, em entrevista à revista Haute Living Miami. No tempo livre, ele também pratica surfe, golfe e basquete. Ele é fã do Philadelphia Eagles, na NFL, e do Philadelphia 76ers, na NBA.